Como lidar com as sobras dos nossos desejos não realizáveis e as sombras que as satisfações das nossas vontades projetam sobre a nossa mente? A ilusão dos sentidos, e do sentido que damos às nossas ações, nunca tem entrada franca. E o preço é pago no momento em que as luzes são acesas e os espelhos descobertos.
As individualidades acabam sempre por se misturar na piscina suja e tão pura dos segredos, dos receios e medos de que no fundo de nós haja mais engano e escuridão do que na casa do vizinho. Todos fecham suas portas para que possam abrir suas bocas. Todos fecham suas bocas para que possam abrir suas vidas. Vidas decoradas, abertas à visitação. E vazias, porque montadas com o único objetivo da venda. Vende-se muito. Venda-se tudo.
O discernimento, luxo que nem todos podem bancar, é o quê, afinal? A pré-ciência de que estamos pra dar passos em falso? Ou a pós-ciência do aprendizado paciente das ações desastradas?
E no final estamos sempre na expectativa do outro, na esperança de se ver lá fora a concretização do que queremos, embora queiramos sempre, muito e pouco, mais e menos, nada e tudo. Eis a nossa ambígua vontade: sermos suficientemente bons em sermos necessariamente maus na realização dos desejos que desafiam a lógica das nossas leis auto-impostas.
O querer ou não querer, o ser ou não ser, são traduzidos em querer ou poder e ser ou dever. E perguntamos, afinal, como aceitarmos as sobras e sombras da mente...
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Peguei vocês!! Pensaram que eu já havia desistido novamente, não é? Mas claro que não! Depois de tantos comentários carinhosos e chuvas de cartas pedindo para que eu não parasse... eu acordei e decidi que devia continuar. Sim, continuarei, até o fim! Até o fim da minha vontade.
Mesmo porque ouvi dizer que o fim já não tá mais virando a esquina. Agora ele tá brincando de esconde-esconde com quem insiste em trocar os nomes das coisas e ensina as pessoas a fugirem do aprendizado. Sim, ué, estão trabalhando para que as pessoas não sofram. Afinal, aprender dói...
O problema é a dor que a contínua negação do crescimento produz. Não é de bom tom empunhar uma metralhadora carregada quando se está cego. Né?