segunda-feira, 20 de outubro de 2014

|::| Dos Tempos e Ventos

"Uma vergonha, seu último post no blog foi 1 ano e 1 mês atrás", disse minha amiga Elen Abe, via whatsapp, hoje, no fim da tarde. E com bastante convicção e sinceridade, só consegui responder que "pois é, tô sem vontade de escrever, acho tudo bobagem e sinto que qualquer coisa que eu diga sempre será uma bobagem desnecessária". Mais algumas mensagens foram trocadas antes que eu decidisse que era válido repetir isso aqui. Acho que a pessoa que eu tenho me tornado com a passagem do tempo encontra cada vez menos valor em qualquer coisa que eu possa vir a escrever. Sentimento esse que já tinha passado rapidamente por mim no passado, mas que de um ano para cá chegou como aquela visita não convidada que antes mesmo de um "oi", entra em sua casa com um par de malas e pede um teto por tempo indeterminado.

Falo por mim. O tempo relativiza o discurso, o pensamento, a voz. O tempo faz erodir as nossas mais firmes opiniões e torna transparentes as cores fortes das convicções que uma vez já deram rótulo à nossa existência. A experiência traz uma percepção de que o aprendizado é sempre um desaprender. O desenvolvimento é um "des-envolver-se" de algo. E as construções às quais dedicamos tanto do nosso tempo vão se revelando feitas de ar e, como ar, são apenas percebidas em seu movimento, em sua passagem por nós. 

Talvez a saída para a minha resistência a escrever seja aceitar que meus textos sejam apenas as janelas que, quando abertas, permitem a passagem do vento. Quem sabe este seja um recomeço a partir de um outro patamar de auto-desconstrução.

(Ah, e acabei de lembrar que nesse período criei o "Miojo Filosófico", para dar vazão às pequenas desconstruções do cotidiano, então até que não fiquei tanto tempo sem escrever).