terça-feira, 28 de dezembro de 2010
|::| Dos desejos para o próximo ano
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
|::| O menino dos ares
No chão, suas idéias se organizaram, seus objetivos ficaram mais claros, assim como seus sentimentos, e agora parte para uma nova fase. Sabe que não sonha sozinho e que alguns vínculos começados há algum tempo são fortes o suficiente para se manterem firmes no meio de toda a bagunça que as mudanças geram.
Não muito tempo atrás, pensando sobre o desconforto que é viver num mundo fake, ele se deu conta de que estamos constantemente procurando não desapontar as muitas expectativas alheias. Ele viu isso como uma grande teia de mentiras, que ameaçava gerar tamanha confusão que deixaria todos a ponto de se perder de si mesmos. Talvez isso ainda não era claro, mas cada vez que ele se colocava aqueles questionamentos, estava se aproximando pouco a pouco do lugar onde está agora.
Se agora ele pode sentir que está fazendo algo importante pelo seu futuro, é porque lá atrás ele passou a se questionar. Ele quis encontrar um caminho que fosse diferente do que via como natural para si e está começando a encontrar um. Com o passar do tempo, perceberá que existem muitos caminhos e que estará sempre naquele que escolher estar. E saberá com clareza que as vontades, os desejos, os sonhos e os projetos sempre se manifestam através de escolhas.
Menino, você que é o mesmo, mesmo quando é assim tão diferente, percebe que sempre foi, mesmo se sem saber, o menino dos ares? Percebe que nunca precisou do avião, pois sempre pôde voar por si mesmo, com essas suas asas que ainda está começando a descobrir? Agora que tudo isso se torna mais claro, para quão longe quererá voar? Preferirá voar sozinho ou aceita companhia? Voará suficientemente alto para a Terra parecer muito pequena e distante? Ou voará baixo o bastante para enxergar o que o espera aqui embaixo?
De qualquer forma, verá que nunca será capaz de voar longe o suficiente para que se perca de si mesmo, pois sua essência, o princípio de si mesmo, é forte o bastante para puxá-lo de volta sempre que estiver longe demais. Puxá-lo de volta à sua felicidade.
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
|::| O caminho dos cães
Anos atrás, ainda criança, quis entender o caminho dos cães abandonados. Perguntou muitas vezes a si mesmo e a tantos outros para onde vão os cachorros que andam sem rumo aparente pelas ruas do mundo. Nunca obteve respostas significativas ou minimamente coerentes. E questionava-se se as entenderia, caso as recebesse.
Foi encontrado dormindo no chão, debaixo de uma ponte. Com apenas 11 anos inventou de seguir aquele viralata magrelo e bastante fedido que encontrara em frente à escola. Não descobriu para onde o cão se dirigia, mas aprendeu que depois de algumas horas caminhando juntos, qualquer cão se torna seu melhor amigo. Após muito insistir, seus pais, ainda chorosos e radiantes após 3 dias de uma busca incansável pelo frágil e doente filho desaparecido, acabaram por aceitar levar o cachorro para casa. Ele ficou feliz, mas chorou escondido, frustrado por não ter feito a descoberta de sua vida.
O suor agora o faz tremer de frio, enquanto observa, paralisado, a porta se abrir. Milhões de perguntas - quem sabe, bilhões - passam por sua mente. Lembra-se de cada resposta vazia que recebera ao longo da vida. Lembra-se de cada vez em que se jogou na cama, afundando o rosto no travesseiro, abafando aquele choro quase injustificável.
Não dá para saber tão pouco e se manter tranquilo. Não para ele. E nessa busca, andou pelo mundo. Conheceu muita gente das gentes de todos os povos. Vez ou outra mandava um cartão postal aos seus pais, avisando que embora tivesse parado com aqueles medicamentos, e contrariado os dizeres e alertas de extremo negativismo de seu médico, sentia-se bem.
Encontrou o que presumira ser o amor. Descobriu o que imaginara ser a paixão. Maltratou o que pensara ser seu corpo. Enfeitou o que julgara ser sua mente. E sempre, mais uma vez, via que, nem de longe, era capaz de entender o caminho dos cães.
Agora, inexplicavelmente, sente que está para descobrir o que sempre quis saber. A porta continua se abrindo, revelando uma luz fraca e um aroma conhecido. Por alguns instantes, ele sente-se como se seu mundo estivesse entrando em colapso com o sol. Sente-se fervendo por dentro. Sente-se cegado pela luz da descoberta. Percebe que sua busca termina exatamente no seu local de partida. E que, enfim, está de volta ao lugar de onde nunca nem percebera ter saído. O lugar para onde os cães vão, o sentido de seu caminho é, no fim das contas, simplesmente, o fim de seu caminho. Não há sentido, não há motivos. Só há o início e o fim. E ambos se encontram no silêncio.
sábado, 2 de outubro de 2010
|::| O Menino do chão
O mundo lá de cima, aquele dos ares, retira-se, aos poucos, dando lugar ao mundo de baixo, das escolhas possíveis e das possibilidades ao alcance dos sonhos. Ao tocar o chão, sente que é o momento de pesar os planos e de avaliar as intenções. Não há mais a liberdade dos ares. Não há mais a liberdade dos tantos lugares e da vida sempre em trânsito. Mas agora há liberdade para iniciar a construção de si mesmo. A liberdade para a definição de seus desejos.
Esse menino, que é o mesmo ao mesmo tempo em que é tão novo e diferente, acordou no chão, na Terra, e agora poderá unir à visão privilegiada que teve lá de cima, a experiência concreta de tocar, por tempo indeterminado, com os pés, o chão.
Será que quando der seus primeiros passos por aqui ele ainda será capaz de manter aquelas confusões que o fizeram ser assim tão diferente? Será que após desembaralhar-se e aterrisar no lugar onde começará a construir uma nova parcela de si mesmo, ele verá que o alto e o baixo, o céu e a terra, o lá e o aqui são sempre o mesmo lugar de sempre? Que, afinal, ele nunca estará longe de si: o único lugar onde pode estar.
domingo, 15 de agosto de 2010
|::| O menino do avião
Embora sempre ele mesmo, estando cada dia em um lugar diferente e cada dia em vários lugares, surge uma sensação de embaralhamento e de confusão. Sensação que às vezes ele percebe, às vezes não, como aquele formigamento nas pernas que só é percebido quando se levanta. Talvez por isso uma certa ansiedade: ele se levantou, e começou um processo de ampliação da sua própria percepção. Depois de iniciado esse processo, é, muito possivelmente, tarde para voltar atrás.
Com os pés frequentemente fora do chão, sem tocar a Terra, sempre entre os lugares, sempre em trânsito, indo ou voltando, nunca ficando, torna-se complicado sentir as regras do jogo. Fica difícil entender de que jogo, dentre os tantos que se jogam no mundo, ele participa. Essa sensação de não pertencimento, de se estar alheio aos fatos, alheio ao que acontece, faz com que ele se irrite, com freqüência. Por incrível que pareça, ele sente, talvez sem perceber, que também precisa encontrar as suas leis, o seu rumo, o seu norte.
Mas como dizer para ele que esse seu mundo acima da Terra é também o que o torna assim tão diferente? E como dizer que nas alturas, onde seus pés não tocam o chão, sua mente se encontra livre para inventar tantas possibilidades e crescer em direções tão novas?
Talvez um de nossos maiores dilemas seja conciliar a grande inovação e criatividade que brotam da ausência das regras com o seu potencial para a destruição. Como transitar entre os mundos, entre as terras, entre as cidades, e continuar mantendo em integração, numa só mente, os seus sentimentos, as suas emoções e os seus sonhos? Ele percebe que em algum momento pousará, e sente que só então poderá colocar em movimento os tantos planos que nutriu enquanto estava entre as nuvens.
Esse menino do avião, que voa entre os mundos, transitando entre os costumes e entre os muros, pousa sempre pouco conformado por perceber que, afinal, estar livre, cada dia em um lugar diferente, como se a cada dia iniciasse uma nova vida, é, afinal, uma perigosa prisão.
Será que quando ele voltar a ligar seus pés ao chão da Terra será capaz de organizar suas tantas idéias alimentadas lá no alto, pouco mais perto das estrelas? Após tanto embaralhar-se, tanto procurar-se e tanto perder-se, ele ainda pode ver que a direção que procura, o seu norte, é, no fim das contas, ele mesmo?
sábado, 10 de julho de 2010
|::| Dos giros da alma
segunda-feira, 5 de julho de 2010
|::| A delicada beleza do descartável
domingo, 6 de junho de 2010
|::| Dos gelos e demais manifestações da água
sábado, 10 de abril de 2010
|::| O fetiche do assalto
domingo, 4 de abril de 2010
|::| A solidez das transformações
segunda-feira, 29 de março de 2010
|::| Parabéns pra mim
Ontem tive insônia. Aproveitei pra pensar, claro... MENTIRA! Todo mundo que já teve insônia alguma vez na vida sabe que durante uma insônia você não pensa, não trabalha, não estuda, não faz nada de produtivo a não ser virar de um lado pra outro e de vez em quando se perguntar "Dormi?" e logo depois responder "Não! Droga!". Bom, não posso reclamar, dois dias atrás eu estava com diarréias. Ah, e no meu último aniversário eu nem sei onde eu estava (aliás, se alguém se lembrar, conte pra mim, por favor).
Fico aqui pensando... tentando decidir se, afinal, eu me importo ou não com essas coisas estranhas que inventamos para nos lembrarmos da passagem do tempo. Se tudo foi inventado por nós - inclusive essas correntes que nos prendem aos tempos e às datas - somos, por fim, mais cedo ou mais tarde, ou sempre, os carrascos e os escravos de nós mesmos. Esse é o tipo de pensamento legal de escrever, mas que significa nada mais, nada menos do que: "nós continuamente ferramos a nós mesmos e nos ferramos nesse processo de nos ferrar". Ah, mas é claro e estupidamente óbvio que esse processo todo tem suas vantagens. O complexo é que por alguma razão desconhecida, as dores parecem bem mais concretas e sólidas do que os prazeres. A alegria realmente é algo sutil e precioso.
Antes que isto aqui se transforme em algo mais do que uma descrição sem graça do meu aniversário, vou parando pra tentar dormir e recuperar os sonhos - os que não tive - da noite passada.
sexta-feira, 26 de março de 2010
|::| Humanos, animais estranhos
Tentar aprender o que já sei talvez seja sempre frustrante. Abrir mão da ilusão do controle e do sonho da racionalidade libertadora tem sido irrealizável pra mim. Esse amargo estridente que acompanha a confissão das minhas fraquezas traz forte irritação. E no fim, vendo tudo isso, só consigo dizer: enfadonho, muito enfadonho.
segunda-feira, 22 de março de 2010
|::| Dos desejos fúteis e das vontades úteis
Pois acho que escrevo para dar fim ao silêncio, tentando, por alguns momentos, convencer essas redes complexas de pensamentos pouco ou muito conectados de que há algo a se dizer antes de mais um silêncio. E confesso, com alguma resistência, que de vez em quando até aparece alguma vontade de me envolver nessas discussões intermináveis que rolam por aí. Sou contra, por exemplo, a matança injustificada das formigas. Sou contra, também, a pipoca de microondas com sabor de chocolate. Sou contra a prática fortemente subversiva de limpar as mãos e a boca nos mesmos panos usados para secar a louça. E sou a favor, bastante, das mulheres que depilam suas axilas (talvez correndo o risco de ser condenado por alguma feminista meio radical). Ah, e claro, sou a favor dos cães. Mas, sinto que ando meio calado, talvez por acreditar pouco nas discussões, talvez por estar bem convencido de minhas opiniões ou talvez por falta de vontade mesmo. Afinal, trabalhar, dormir, comer e jogar videogames cansa.
O desejo de filosofar tem empacado naquelas vontades de simplesmente ir vivendo. Talvez, todas as coisas que acontecem no verão me deixam meio descrente. Embora eu continue acreditando na existência dos duendes e dos políticos honestos.
E evitando o risco de uma indigestão literária, vou parando por aqui. Faço uma promessa aos poucos que ainda me visitam: eu voltarei!