domingo, 29 de setembro de 2013

|::| De Segundas e Sextas

Lá onde passo um terço dos meus dias, reservamos a semana passada para algumas atividades geradoras de reflexão sobre "carreira", entendida não apenas em seus impactos sobre a dimensão do trabalho, mas em toda sua extensão e relação com nossa vida. Num dos momentos mais marcantes da semana, tivemos o privilégio de conversar com o Maurício Curi, criador da Educartis (http://www.educartis.com/). O papo girou em torno do desafio de se fazer coisas "de propósito", e não "sem querer". Fiquei aqui pensando nas escolhas que fiz sobre como conduzir a minha vida e nada melhor do que um domingo à noite para escrever sobre isso e ordenar as idéias antes de mais um ciclo semanal de atividades.

Nos últimos anos tenho entendido a minha vida como o desenrolar de uma série de escolhas que faço diante de minhas experiências. Uma escolha que considero determinante é como abordar as experiências que são desagradáveis e sobre as quais não tenho controle. Tenho experimentado frutos interessantes do exercício constante de fazer algumas perguntas como: 
  • Considerando que isso já aconteceu, o que decido fazer a partir de agora?
  • Tenho controle sobre isso ou o controle que tenho é uma ilusão? 
  • E o que acontece se eu aceitar que não tenho controle?

Bom, pelo que vejo, a luta por controle está presente em muitas das minhas experiências. Vejo que em muitas delas, o que tenho é apenas uma ilusão. Acho que controlo a vida dos outros, seus sentimentos e suas escolhas. E o resultado é tornar-me um colecionador de decepções e ansiedades. O risco é viver uma tristeza em pequenas doses. Viver esperanças tristes. Esperar a sexta-feira com ansiedade e temer a chegada das segundas. 

Mas se a passagem do tempo escapa completamente ao meu controle, o que é que posso fazer para acabar com esse ciclo de ansiedades? O que significa esperar com ansiedade as sextas-feiras e olhar com tristeza a aproximação das segundas? Pensando mais sobre isso, percebo a insanidade a que nos sujeitamos: viver 70% dos nossos dias fazendo algo que não gostamos de fazer. Talvez seja o caso de parar para pensar no que significa querer uma vida feita apenas de fins de semana. Do que são feitos os nossos outros dias? 

Essas são perguntas sobre as quais eu apenas engatinho, descobrindo aos poucos que viver plenamente os meus dias talvez seja fruto da escolha de fazer algo de interessante com aquilo sobre o que não tenho controle. E acho que estou num bom caminho, pois pensando bem, é incrível saber que amanhã eu começo mais um ciclo!

Esta será, realmente, mais uma ótima semana!

sábado, 31 de agosto de 2013

|::| Dos encontros

Fazia tanto tempo que eu não postava nada por aqui que talvez seja bom eu me apresentar novamente. Oi, meu nome é Kelson, tenho 30 anos, moro em São Paulo e de vez em quando a minha vontade de dizer algo se transforma em algum textinho que publico por aqui. 

Nos últimos quatro anos tenho tido o prazer de trabalhar com pessoas que valorizam boas reflexões e que não tem medo de alguns bons questionamentos. Alguns meses atrás passamos algum tempo com um filósofo, conversando sobre bons encontros, com boas doses de Spinoza e algumas pitadas de Nietzsche. Eu confesso que a conversa rendeu algumas bagunçadas na mente. E nada como bagunçar os pensamentos para encontrar novos sentidos, achar idéias que estavam perdidas e reorganizar as coisas.

Fiquei responsável por registrar aquela atividade de alguma forma e para tanto decidi escrever um texto que poderia ser transformado num pequeno vídeo. E tendo a sorte de ser amigo da artista Elen Gruber (para conhecer o trabalho dela: http://www.elengruber.com.br/), e não havendo pessoa melhor no mundo para concretizar essa ideia, escrevi o texto já pensando nela. O resultado não poderia ser melhor. Ontem ela me retornou o texto na forma de um vídeo lindo e perturbador. E aproveito então para postá-lo aqui, junto com o texto. Enjoy!





Dos encontros.

O que é mais útil ao ser humano do que outro ser humano?

Na sucessão de encontros que é a minha vida, eu me vejo intensa, eterna. Não imortal, mas eterna neste agora. Este agora que me surpreende. Este agora que me desafia, que me convida a decifra-lo. Este agora que me escapa. Que me escapa.... escapa e retorna à mente como inspiração, como sonho.

Hoje estou me sentindo eu. Mas tem dia em que é um esforço ser eu. É tanta ilusão rolando lá fora... tem horas em que me constranjo e sou pouco corajosa. Falta coragem pra viver a vida, embora enquanto viva, seja impossível não vive-la. Num dia sou escrava, no outro sou tirana. Escrava de mim. Escrava dos outros. De vez em quando escolho, sem esforço, acreditar nos sacerdotes e receber seus tantos analgésicos. Pensa que é fácil perceber que não sou o centro do universo? Que não sou o centro da espécie? Que não sou o centro da história? Que não sou o centro nem de mim mesma? Eu não sou o centro nem de mim mesma... Eu sou órfã de sentidos pré-definidos. Órfã de Bem e de Mal. Descobri que sou filha da diferença. Filha do bom, filha do mau. Filha de muitos encontros.

Eu quero ser digna daquilo que me acontece. Sem culpas, sem arrependimentos, sem medos, sem esperanças tristes, sem ressentimentos. Apenas digna por aceitar que a liberdade que eu queria era ilusão e dessa ilusão eu me fiz livre. Eu quero afirmar o que me acontece, ressignificar a minha história e vincular a minha vida no presente. Quero ser livre da tirania da alegria. Quero ser livre das certezas que me enlouquecem. Quero renascer no bom uso das dores. Quero tornar-me aquilo que sou.

Entre bons e maus encontros, hoje eu me encontrei comigo e perguntei: “quais são os valores dos meus valores?”. E esse foi um bom encontro.

Kelson Fernandes
Produzido a partir de um bom encontro.