sexta-feira, 26 de agosto de 2011

|::| Do começo da história

Sabendo que alguma coisa mudara, ele fecha a porta atrás de si e acende as luzes da sala. Observa aquele silêncio. A solidão. O vazio. Seu sofá, sua televisão, seu videogame. Seus objetos, seus livros. Tudo, sem exceção, um amontoado de pequenas coisas que compõem seu lar. Mas hoje, ele não sente como se ali fosse realmente seu lar. Sente-se estranho. Sente-se fora de contexto. Sente-se fora de si.

Fecha seus olhos e se transporta a horas antes. Tudo ainda está tão nítido em sua memória que ele é capaz de sentir o cheiro, o gosto, o calor e a textura. Horas antes ele sabia bem o que queria e para onde estava indo. Agora, ele é apenas capaz de pensar naquele beijo. Não vê nada diante dele, exceto um desejo inexplicável, com o qual ele ainda luta para se manter sob controle.

Esforça-se para manter-se no chão. Para manter-se nele mesmo. Mas já é tarde. Logo será dia novamente, e ele verá que há nada a fazer. Ele já não é dele. Ele já não é mais só ele. Algo de milagroso e surpreendente aconteceu durante aquele beijo. Sua lógica e raciocínio são incapazes de lhe dar explicações satisfatórias. Ele sabe o que quer, mas não entende o porquê de seu desejo.

Ele ainda não sabe que está apaixonado. Mas com o tempo, vai descobrir.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

|::| Do fim das férias

Se há algo que pode irritar uma criança, tirar seu sono e fazer com que ela deseje a morte a facadas, é passar por aquele momento de extrema e insana tortura pré-férias em que sua professora diz – Vou passar uma tarefa para as férias de vocês! – A desgraçada ainda faz caras de felicidade. Obviamente, é uma dominadora sadomasoquista enrustida, sanguinária entre quatro paredes. Esse realmente é um momento de terror.


Mas, quando crianças, mal sabemos que haverá algo muito pior do que as tarefas para as férias. Na idade adulta, precisaremos passar pelo retorno das férias de trabalho. Sim, isso sim é o fim dos tempos. Isso sim cria desejos profundos por harakiris, ou por enforcamentos, ou por asfixiamento, ou qualquer morte ritualística capaz de demonstrar, simbolicamente, o horror da situação vivida.


Precisamos ler milhares de e-mails, lembrar de onde paramos nas atividades que realizávamos antes das férias e nos atualizar quanto às fofocas sobre as dinâmicas recentes do poder dentro da empresa (quem demitiu quem, quem puxou o tapete de quem, quem foi promovido, quem xingou o chefe, etc, etc). Tudo isso, óbvio, além de trabalhar, pelo menos alguns dias, por dois ou três, pois é claro que o mundo não parou durante as nossas férias. Pelo contrário, nesse período, muito provavelmente, as maiores bombas estouraram, houve mudanças na estrutura da empresa, produtos foram lançados, pessoas foram demitidas, pessoas foram contratadas, enfim, o retorno é sempre caótico.


Sabem aquele negócio de “vou correr para deixar tudo organizado pois vou sair de férias”? Então, que bonito isso, não é? Durante suas férias, o mundo encarregar-se-á de produzir uma das forças mais bonitinhas e agradáveis do universo: o CAOS. Durante dias lutaremos em vão para tornar todas as coisas ao estado desejado de equilíbrio pré-férias e descobriremos, um ano depois, que as coisas só nos parecerão em ordem novamente quando estivermos diante de nossas próximas férias.


É óbvio que se esse processo continua se repetindo, é porque de alguma forma ele funciona e cumpre algum papel. O caos é, afinal, em certa medida, produtivo. Nada como vermos tudo bagunçado para nos animarmos a refazer, recriar e reorganizar coisas. E nesse processo, quem sabe não saiamos para as próximas férias um tanto mais satisfeitos do que saímos para as últimas? No pior dos cenários, não teremos férias nunca mais e não precisaremos lidar com tanto caos...

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

|::| Dos Enganos

Então eu decidi vir postar um texto que escrevi há alguns dias, sobre meu retorno ao trabalho, após duas semanas de férias, e vi que há quase três meses eu não posto nada. Nada, entendem? Iniciei o ano imaginando que seria o ano das postagens. Achei que ia escrever pelo menos um texto por semana... e vejam só o que aconteceu. Quase nada.

Obviamente que isso me fez pensar sobre como nos enganamos, né? E pior, nós nos enganamos de forma totalmente inocente. Eu realmente acreditei que seria um ano diferente dos anteriores. Um ano em que eu me engajaria a expor mais a minha opinião sobre tanta coisa tenebrosa que a gente vê por aí (e por aqui). Como vêem, não tem acontecido exatamente como o planejado. Pelo menos não até o momento. Mas como sou brasileiro e não desisto nunca (bla, bla, bla), ainda acredito que será o ano em que mais textos serão postados neste humilde, muito humilde, blog.

Voltando ao assunto, é interessante ver como nós nos enganamos. Fazemos planos mirabolantes que desafiam os nossos hábitos. Como se fosse fácil alterar num abrir e fechar de olhos comportamentos e caminhos seguidos ao longo de anos. Talvez esteja aí um de nossos maiores e mais frequentes enganos: a crença na rápida mudança de nossos hábitos. Se eu nunca consegui ser tão engajado neste blog quanto eu gostaria, o que faria isso mudar apenas porque 2010 se transformou em 2011?

Não sei bem porque não postei nada ao longo desses meses. Cheguei a começar muitos textos, mas nenhum me agradou ao ponto de aparecer por aqui. E quando me refiro a "agradar", estou apenas me referindo àqueles textos que fazem sentido para mim e que me dão uma sensação de encaixe, quer sejam bons, quer sejam ruins.

Tive vontade de escrever sobre tanta coisa. Eu me revoltei com tanta coisa. Tem tanta coisa estranha acontecendo... Tem gente dizendo que o mundo vai acabar, pra variar... Tem gente marchando por tudo quanto se possa imaginar. Aliás, há marcha para tudo hoje em dia, não é? Até para o que é completamente fora de contexto marchar. Mas isso é tema para algum outro post. Neste aqui eu só quis falar dessa minha surpresa ao ver que tenho andado tão descuidado com este blog...

Segue, logo mais, um textinho novo...