sábado, 31 de agosto de 2013

|::| Dos encontros

Fazia tanto tempo que eu não postava nada por aqui que talvez seja bom eu me apresentar novamente. Oi, meu nome é Kelson, tenho 30 anos, moro em São Paulo e de vez em quando a minha vontade de dizer algo se transforma em algum textinho que publico por aqui. 

Nos últimos quatro anos tenho tido o prazer de trabalhar com pessoas que valorizam boas reflexões e que não tem medo de alguns bons questionamentos. Alguns meses atrás passamos algum tempo com um filósofo, conversando sobre bons encontros, com boas doses de Spinoza e algumas pitadas de Nietzsche. Eu confesso que a conversa rendeu algumas bagunçadas na mente. E nada como bagunçar os pensamentos para encontrar novos sentidos, achar idéias que estavam perdidas e reorganizar as coisas.

Fiquei responsável por registrar aquela atividade de alguma forma e para tanto decidi escrever um texto que poderia ser transformado num pequeno vídeo. E tendo a sorte de ser amigo da artista Elen Gruber (para conhecer o trabalho dela: http://www.elengruber.com.br/), e não havendo pessoa melhor no mundo para concretizar essa ideia, escrevi o texto já pensando nela. O resultado não poderia ser melhor. Ontem ela me retornou o texto na forma de um vídeo lindo e perturbador. E aproveito então para postá-lo aqui, junto com o texto. Enjoy!





Dos encontros.

O que é mais útil ao ser humano do que outro ser humano?

Na sucessão de encontros que é a minha vida, eu me vejo intensa, eterna. Não imortal, mas eterna neste agora. Este agora que me surpreende. Este agora que me desafia, que me convida a decifra-lo. Este agora que me escapa. Que me escapa.... escapa e retorna à mente como inspiração, como sonho.

Hoje estou me sentindo eu. Mas tem dia em que é um esforço ser eu. É tanta ilusão rolando lá fora... tem horas em que me constranjo e sou pouco corajosa. Falta coragem pra viver a vida, embora enquanto viva, seja impossível não vive-la. Num dia sou escrava, no outro sou tirana. Escrava de mim. Escrava dos outros. De vez em quando escolho, sem esforço, acreditar nos sacerdotes e receber seus tantos analgésicos. Pensa que é fácil perceber que não sou o centro do universo? Que não sou o centro da espécie? Que não sou o centro da história? Que não sou o centro nem de mim mesma? Eu não sou o centro nem de mim mesma... Eu sou órfã de sentidos pré-definidos. Órfã de Bem e de Mal. Descobri que sou filha da diferença. Filha do bom, filha do mau. Filha de muitos encontros.

Eu quero ser digna daquilo que me acontece. Sem culpas, sem arrependimentos, sem medos, sem esperanças tristes, sem ressentimentos. Apenas digna por aceitar que a liberdade que eu queria era ilusão e dessa ilusão eu me fiz livre. Eu quero afirmar o que me acontece, ressignificar a minha história e vincular a minha vida no presente. Quero ser livre da tirania da alegria. Quero ser livre das certezas que me enlouquecem. Quero renascer no bom uso das dores. Quero tornar-me aquilo que sou.

Entre bons e maus encontros, hoje eu me encontrei comigo e perguntei: “quais são os valores dos meus valores?”. E esse foi um bom encontro.

Kelson Fernandes
Produzido a partir de um bom encontro.