quarta-feira, 5 de outubro de 2011
|::| Sobre a morte
sábado, 1 de outubro de 2011
|::| Das aleatoriedades significativas
Vamos vivendo os nossos dias, seguindo rotinas e realizando as atividades que escolhemos realizar e esquecemos como muito do que queremos controlar escapa completamente à nossa decisão consciente. Há vezes em que um passo a mais ou a menos, um minuto antes ou depois, para um lado ou para outro, muda muita coisa. Esse processo acontece a todo momento, pois a todo instante estamos escolhendo, vivendo, andando de um lado para o outro, encontrando e conhecendo pessoas. Mas, nem por isso nossa atenção é chamada para esse processo, pois na maioria das vezes, sentimos muito pouco que estamos presenciando algo com poder de influenciar ou até mudar radicalmente os caminhos em que estávamos andando. Entretanto, existe uma minoria de acontecimentos que carregam em si algum conteúdo especial inexplicável a que, não por acaso, damos o nome de “acaso”. Jogamos a responsabilidade de encontros inesperados e acontecimentos imprevistos ao acaso. Alguns até diriam que esses acasos na verdade são fruto da ação de forças invisíveis superiores. Quem sou eu pra confirmar ou duvidar?
Desconfio que o acaso seja um tanto brincalhão, e gosta de nos colocar à prova, de nos desafiar e de nos levar a repensar tudo aquilo que temos como totalmente certo em nossa vida. Ele faz ironias, prega peças e se diverte com as nossas confusões. Ele se diverte vendo que somos, no fim das contas, sempre muito frágeis, muito pouco decididos e muito pouco estáveis. Estamos sempre mudando, a cada passo que damos. Sempre alterando nossa rota, nossas escolhas, pouco a pouco, de forma quase imperceptível. E, freqüentemente, quase não enxergamos quando estamos rumando a possibilidades completamente inusitadas.
Sinto como se eu vivesse num jogo, controlado pelo acaso, em que a cada rodada novos dados são jogados, novas cartas são colocadas sobre a mesa, e preciso repensar minhas escolhas, reprogramar meus caminhos e, para atender às novidades, como que me refazer. Eu me surpreendo com as mudanças. Eu me surpreendo ao ver que pensamentos se alteram, sentimentos mudam de intensidade e julgamentos novos são realizados a partir de perspectivas que me parecem muito mais abrangentes. Nesse processo eu me sinto cada vez mais integrado ao conjunto de potencialidades que marcam a minha existência, embora, com freqüência desconcertante, eu me sinta confuso e sem saber que elementos e variáveis considerar na hora de escolher aquilo que eu já sinto que quero escolher. Talvez tudo seja parte das brincadeiras desse estranho acaso, que ri de como nos forçamos tanto para não querer o que queremos e não escolher aquilo que tememos não nos dar segurança. Ele ri porque sabe que a qualquer momento poderá nos chacoalhar novamente e mudar todas as regras do jogo, e fazer com que o certo pareça incerto e o seguro pareça inseguro.
De tudo isso, acho que tiro um questionamento importante, embora ainda não respondido: devo estar ansioso a respeito do futuro quando sei que poderia estar me deixando levar por essa brincadeira toda que o acaso cria? E quanto devo adiar aceitar a brincadeira sabendo que, a qualquer momento, qualquer um de nós pode enfrentar a maior (talvez a única) de todas as certezas que temos ao nascer, que é o fim da brincadeira?
domingo, 25 de setembro de 2011
|::| Da dificuldade de se escrever com outras cores
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
|::| Sobre a dor
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
|::| Deste quebra-cabeças
terça-feira, 13 de setembro de 2011
|::| Do transporte coletivo
Eu sempre disse que usar o transporte público é uma experiência antropológica riquíssima, mas hoje irei um pouco além e direi que usar o transporte público é uma experiência transcendental, um pré-requisito para a iluminação e uma etapa crucial para o entendimento de tudo o que há e mais um pouco. Alcancei essa compreensão enquanto eu me misturava ao TODO nesta manhã.
Acordei feliz, ao som de passarinhos cantando e as folhas das árvores balançando lá fora, movidas por uma brisa suave que carregava aromas restauradores da natureza. (Aham, senta lá, Cláudia). Na verdade, acordei ao som de sirenes de ambulância e buzinas, sentindo meu nariz coçar devido ao ar poluído de São Paulo. Saí de casa e me dirigi à estação de metrô mais próxima.
Cheguei à plataforma e, como de costume, a aglomeração estava grande. Após vários minutos parado no meio da multidão, sentindo-me parte de algo mais, algo maior, fenômeno tão bem explicado por Durkheim, fui sendo pouco a pouco levado para mais perto de conseguir entrar no vagão. Até que finalmente fui introduzido no metrô, carregado pela massa. Não que eu não quisesse entrar no vagão, e na verdade, esse era o meu objetivo, é claro, mas fazê-lo de forma tão... suave, fez com que a minha felicidade se intensificasse sobremaneira. A sensação de ser levado, como que flutuando, seria excelente caso não fosse acompanhada de forte sufoco, provocado não apenas pelo aperto, mas por aqueles inúmeros odores tão interessantes da manhã.
E sempre tem alguém mais..., como posso dizer..., comunicativo, que gosta de interagir e que cria diálogos inesquecíveis por sua objetividade simpática, abordando as pessoas à sua volta:
- Amigo, sabe aquele arroz que você comeu ontem no jantar, bem refogado, carregado de alho e cebola?
- Sei.
- Gostoso, né?
- Sim. Muito.
- Então, fica ainda mais gostoso se agora você fechar os olhos, pensar no arroz e segurar a sua respiração!
- Senhora, posso fazer uma pergunta?
- Sim, meu filho.
- Que perfume é esse que está usando?
- Ah, nenhum. Só o desodorante mesmo.
- Percebi.
- Que era meu desodorante?
- Sim, percebi tão bem que até detectei a data de validade dele.
- Ahn?
- Sabia que desodorantes vencem?
Os odores seriam os protagonistas do espetacular ato de usar o transporte público, caso não houvesse algo muito superior: a comprovação de que – pasmem! – SIM, é possível dois corpos ocuparem o mesmo espaço! Incrível, né? Séculos de mentes brilhantes debruçadas sobre os mistérios da física e em instantes todas as suas teorias são jogadas por terra...
O interessante é que em meio a tudo isso, descobri que posso atingir estágios superiores de percepção da realidade. Tudo é, mesmo, uma questão de perspectiva. Posso fechar os olhos ver que estou numa balada, gastando apenas poucos reais. Posso ser uma estrela do rock, recebendo o carinho de centenas de fãs enlouquecidos tentando me abraçar. Posso ser cobaia de uma experiência científica altamente avançada que fará com que o conhecimento e as capacidades de todas aquelas pessoas passem para mim.
E enquanto distorço a realidade, chego ao meu destino, saio do trem, e me dirijo ao prédio em que trabalho, preparado para pegar um elevador. Lotado!
domingo, 11 de setembro de 2011
|::| Dos tantos rascunhos
sexta-feira, 26 de agosto de 2011
|::| Do começo da história
sexta-feira, 19 de agosto de 2011
|::| Do fim das férias
Se há algo que pode irritar uma criança, tirar seu sono e fazer com que ela deseje a morte a facadas, é passar por aquele momento de extrema e insana tortura pré-férias em que sua professora diz – Vou passar uma tarefa para as férias de vocês! – A desgraçada ainda faz caras de felicidade. Obviamente, é uma dominadora sadomasoquista enrustida, sanguinária entre quatro paredes. Esse realmente é um momento de terror.
Mas, quando crianças, mal sabemos que haverá algo muito pior do que as tarefas para as férias. Na idade adulta, precisaremos passar pelo retorno das férias de trabalho. Sim, isso sim é o fim dos tempos. Isso sim cria desejos profundos por harakiris, ou por enforcamentos, ou por asfixiamento, ou qualquer morte ritualística capaz de demonstrar, simbolicamente, o horror da situação vivida.
Precisamos ler milhares de e-mails, lembrar de onde paramos nas atividades que realizávamos antes das férias e nos atualizar quanto às fofocas sobre as dinâmicas recentes do poder dentro da empresa (quem demitiu quem, quem puxou o tapete de quem, quem foi promovido, quem xingou o chefe, etc, etc). Tudo isso, óbvio, além de trabalhar, pelo menos alguns dias, por dois ou três, pois é claro que o mundo não parou durante as nossas férias. Pelo contrário, nesse período, muito provavelmente, as maiores bombas estouraram, houve mudanças na estrutura da empresa, produtos foram lançados, pessoas foram demitidas, pessoas foram contratadas, enfim, o retorno é sempre caótico.
Sabem aquele negócio de “vou correr para deixar tudo organizado pois vou sair de férias”? Então, que bonito isso, não é? Durante suas férias, o mundo encarregar-se-á de produzir uma das forças mais bonitinhas e agradáveis do universo: o CAOS. Durante dias lutaremos em vão para tornar todas as coisas ao estado desejado de equilíbrio pré-férias e descobriremos, um ano depois, que as coisas só nos parecerão em ordem novamente quando estivermos diante de nossas próximas férias.