Acho que se pararmos diante de qualquer grupinho de pessoas conversando, veremos alguém se lamentando de como sua vida traz, repetidamente, as mesmas decepções e experiências não desejadas. Sabem aquele tipo que sempre teve chefes detestáveis, ou sempre teve as mesmas decepções em sua vida amorosa, ou sempre conhece o mesmo tipo de gente? Pois é, o engraçado é que há bilhões de seres humanos, infinitas situações e possibilidades de vida e ainda conseguimos, aparentemente, repetir experiências.
E daí, quando olho lá para trás, para a infância mesmo, quando os desenhos que eu pintava eram multicoloridos, e havia orgulho em ter uma caixa de lápis com centenas de cores, fico pensando nessa coisa doida de repetirmos experiências. Vejo que com o tempo eu mesmo fui escolhendo cores e aprendendo que a grama deve ser pintada de verde e o céu de azul. O que é diferente disso é errado, pois não se encaixa na forma como organizamos o mundo. Quanto a isso, alguns podem argumentar que é uma espécie de mal necessário, considerando que compartilhar de sistemas de classificação similares facilita a convivência e a vida em sociedade. Sim, facilita mesmo e não vejo problema algum nisso, exceto quando nesse processo de encaixe, em que somos "formados" de acordo com moldes pré-existentes, jogamos fora as outras cores. Desaprendemos como pintar a nossa vida com cores diferentes.
Cada um de nós carrega uma mente ensinável, que pode moldar e treinar conforme vive. Essa é uma verdade absolutamente incrível que, ao ser aceita e usada, pode provocar verdadeiras revoluções em nossa vida ao longo do tempo. Cada vez que repetimos ações e que reforçamos pensamentos, estamos pouco a pouco construindo os padrões de comportamento – uma espécie de piloto automático para a nossa vida. Só que frequentemente esquecemos que se podemos criar, também podemos destruir, criar novos, alterar e assim por diante. No início, é apenas uma cor que nos parece fazer mais sentido na escrita de um episódio específico, mas com o tempo, o ambiente muda, a situação muda, o contexto muda e continuamos escrevendo com a mesma cor. E mais para frente, quase sempre, encontramo-nos reclamando daquilo que experimentamos na nossa vida, pouco cientes do trajeto que percorremos e da nossa responsabilidade na escrita da nossa história.
Não acho que em algum momento as mudanças serão mais fáceis. Escolher novas cores sempre produz momentos de desconforto. Estamos habituados a usar as mesmas cores na hora de pintar as nossas escolhas e sempre acharemos que estamos errando ao mudarmos. Isso se conseguirmos iniciar o processo de escolha de novas cores, porque o que acontece com mais frequência é nem pensarmos nessa possibilidade. Em alguns momentos, até veremos que algo está diferente, que a situação é nova e que há uma nova cor disponível, mas e a coragem para a mudança? Afinal, temos sempre a sensação de que já tentamos viver algo novo e mudar de vida, e sempre chegamos à conclusão descrente de que não há nada a fazer, pois as coisas são como são. Mas será que realmente estivemos alguma vez abertos à mudança? Ou estivemos sempre escrevendo e reescrevendo usando lápis das mesmas cores?
Há uma grande beleza em perceber que nenhuma cor precisa ser descartada, e que todas aquelas centenas de cores da infância sempre estiveram disponíveis a nós. Diante de cada nova situação, o que nos impede de procurar alternar ou adicionar cores que não estávamos usando anteriormente? O que nos impede de bagunçarmos os lápis e tentarmos escrever nossas histórias usando cores novas e variadas? O que nos impede é, simplesmente, o medo de correr o risco de nada mudar. E se o preço que pagaremos pela possibilidade de vermos que é possível viver o que realmente sonhamos é correr o risco de mantermos a vida que temos agora, então penso que vale a pena. Sim, vejo que vale bastante a pena.
Caramba !! Hoje ao entrar no blog me deparei logo de cara com dois textos em tão pouco tempo. Li e fiquei impressionada com a excelência deles. Sensacional !! Como vc consegui??(rsrsr). Parabéns !!
ResponderExcluirMuito bom, o sensacional da vida é que até as cores podem mudar em si mesmas.
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