domingo, 11 de setembro de 2011

|::| Dos tantos rascunhos

Segura o celular com a mão esquerda enquanto o movimento lento e indeciso da direita revela sua ansiedade. Ele experimenta seu momento mais ambíguo, vendo diante de si uma série de possibilidades às quais estivera, por tanto tempo, cego. Desta vez não se trata apenas de seguir um caminho ou não, mas de escolher como e em que momento chegar aonde quer. Como de costume, é movido por seu defeito mais persistente e perigoso: tentar com todas as suas forças ser o que julga dever ser, mesmo acreditando que está longe daquilo que acredita ser seu caminho.

Aguarda um pouco mais, pensando que talvez o aparelho toque antes, tirando dele a responsabilidade por suas escolhas. Verifica, mais uma vez, se recebeu algo, uma mensagem, um recado. Nada. Sem mensagens, sem recados na caixa postal. Sem ligações perdidas. Apenas um amontoado de rascunhos. De tentativas. De escolhas abortadas.

Não sabe que cada vez que não escolhe, está, ainda assim, fazendo uma escolha. E vai afastando de si, pouco a pouco, com uma certa elegância dolorosa, a possibilidade de descobrir que está todo errado. E como ele saberia disso se tudo o que vê é uma história cheia de expectativas frustradas? Talvez o segredo seja aceitar que há nada a esperar, embora espere e queira muito.

Enxerga bem as regras, mas não entende que quem as criou pode mudá-las, a qualquer momento, alterando a ordem das coisas e o sentido dos caminhos. A ele cabe apenas a responsabilidade por seus atos, nada mais, nada menos. Nunca poderá ser culpado pelas escolhas dos outros, embora eventualmente, talvez sem perceber, assuma esse peso como forma de evitar uma nova frustração.

Há limites para as tentativas que se faz ao longo de tantos anos na busca por calar o som desse vazio que ele sente tão bem? Existe alguma regra que defina até onde se deva ir na busca da realização daquilo que se é?

Talvez haja a sensação de que nada, nunca, tenha sido algo mais do que um rascunho, do que um projeto frustrado. Mas o que possivelmente não esteja claro é que em algum momento, perdido entre tantos rascunhos, possa surgir o início do desenho da vida com que ele sonhou.

O celular toca. Ele sabe como atender?


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