segunda-feira, 23 de novembro de 2015

|::| Dos princípios que nunca são o começo

Cerca de 15 anos atrás eu estava descobrindo que escrever poderia ser algo interessante para mim. Após participar de um dos grupos vencedores de um prêmio nacional de literatura, de certa forma a vontade de escrever havia se instalado em mim. Foi quando criei meu primeiro "blog". Eu desconfio que naquela época o nome para esse tipo de coisa nem era esse. Mas eu fazia tudo o que conseguia através de uma plataforma gratuita de criação de páginas pessoais para entregar a melhor experiência possível aos poucos e muito desejados internautas que vez ou outra apareciam no meu humilde site. 

E de lá para cá metade da minha vida passou e sinto como se tivesse cada vez menos a dizer. E já nem é tão novidade aqui o quanto essa percepção tem crescido em mim ao longo dos últimos tempos. Acreditem, a vontade de escrever continua firme, mas a crença de que realmente haja algo a ser dito através do que eu escrevo é que se enfraqueceu. Sei que a minha mãe vai discordar (no cumprimento do seu papel tradicional de mãe ela costuma achar incrível qualquer coisa que eu diga), mas desconfio que tudo o que eu venha a escrever seja completamente dispensável. Ah, e sem contar que durante esses anos todos eu tenha me perdido nas revisões das nossas normas gramaticais e soe a quem tá chegando agora como outros soavam a mim quando eu topava com uma "pharmacia". Sim, reconheço que além de dispensável eu também esteja ficando cada vai mais ultrapassado. Mas confesso que isso me desperta uma certa admiração pelo tempo e pelos efeitos da sua passagem.

Novamente me vejo frente à constatação de que o tempo nos leva a reler constantemente as nossas experiências, dando a elas sentidos e interpretações inesperadas. Somos, talvez, uma incessante releitura de nós mesmos e tudo aquilo que experimentamos. Somos, de certa forma, uma invenção diária de algo que já existe, algo que é sempre novo embora nunca seja o início de algo. A novidade que eu sou agora é o fim da novidade que eu era imediatamente antes. Talvez porque cada pequena nova experiência que integramos à nossa consciência tenha o potencial de bagunçar e reordenar o pacote completo daquilo que chamamos de "eu". E a cada pequena reordenação vamos nos tornando, geralmente sem perceber, uma enorme novidade. 

Acho que há uma certa graça (ou beleza, se preferirem) nisso tudo. Esse negócio misterioso que é a vida vai se movimentando no tempo, criando seus espaços, ampliando suas possibilidades, destruindo e construindo, matando e fazendo nascer, levando-nos a desconfiar de que talvez o sentido de tudo seja o movimento. E sofremos quando tentamos barrar ou não aceitamos esse movimento, quando nos apegamos a qualquer coisa que não seja o próprio movimento.

Mas daí já tá ficando tarde e o sono está ficando grande demais para continuar divagando sobre o sentido da vida...