quarta-feira, 21 de setembro de 2011

|::| Sobre a dor

E então nós vamos coletando experiências, presenciando acontecimentos, vivendo os nossos dias, e desfilando a nossa capacidade de sentir. Ao longo disso tudo, vamos transitando entre emoções e sentimentos. Hoje, partindo de tudo o que eu já vivi – e estou consciente de que é bem pouco – eu acredito que somos muito pouco lineares na forma como sentimos a vida. Em instantes viajamos por emoções opostas e contraditórias. A tristeza e a alegria, o amor e o ódio, a confiança e a insegurança, são opostos entre os quais oscilamos continuamente.

A nossa pequena consciência da interação complexa que se processa a todo momento entre nosso "mundo interior" e a leitura que fazemos do "mundo exterior", leva-nos a uma grande vulnerabilidade frente às sacudidas que as nossas emoções nos dão. Segundo a segundo estamos trabalhando as informações que captamos por todos os nossos sentidos e realizando agrupamentos, julgamentos e interpretações. Não acredito que haja qualquer experiência que fique gravada em nossa mente sem estar conectada a uma série de outras informações e experiências e sem que faça parte de uma rede de significados. O interessante é que essa nossa capacidade de processar, agrupar e julgar as coisas se desenrola automaticamente. Querendo ou não, tudo a que nos expusermos será encaixado e gravado em algum lugar de nossas memórias. Resta-nos entender em que medida podemos trabalhar as informações de forma a servirmos a escolhas conscientes.

Somos expostos a uma série de escolhas, às quais só estamos sensíveis à medida em que enxergamos as possibilidades que estão diante de nós. Ao experimentarmos tantas emoções e sentimentos diferentes ficamos conscientes de que podemos fazer algumas escolhas que nos levam a experimentar mais ou menos algumas emoções. Perceber isso traz, na minha opinião, alguns benefícios. Um deles é, para usar um linguajar bacana, o gerenciamento da dor. E por "dor" não estou me referindo à sensação física, mas a uma realidade psíquica, ao sofrimento emocional.

Não sei dizer o quanto cada um é mais ou menos tolerante ao sofrimento e à dor, mas a consciência de que temos a capacidade de reinterpretar acontecimentos talvez seja um caminho para gerenciarmos, mesmo que minimamente, a dor e o sofrimento. Quem sabe se cultivarmos essa capacidade possamos passar com mais leveza e equilíbrio pelos tantos momentos de decepção, frustração e dor que passaremos ao longo da vida?



3 comentários:

  1. Gostei da idéia de imaginar que podemos gerenciar a dor! Eu acredito, sem dúvida que podemos dar uma mãozinho para que algo melhore no nosso interior!!

    Gostei muito desse Post!!

    "Querendo ou não, tudo a que nos expusermos será encaixado e gravado em algum lugar de nossas memórias. Resta-nos entender em que medida podemos trabalhar as informações de forma a servirmos a escolhas conscientes."

    "gerenciamento da dor"

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  2. É possível nos blindarmos, vestir-mo-nos com uma armadura de frieza e distanciamento que nos permita um controle mais intenso da "dor"? Vejo muitas vantagens nesse distanciamento, principalmente no que diz respeito aos inconvenientes das atitudes tomadas em momentos passionais (de raiva ou não). Enxergaríamos as coisas de uma forma macro e as decisões seriam mais precisas e sensatas. Quem dera sentir menos!

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