sábado, 1 de outubro de 2011

|::| Das aleatoriedades significativas

Vamos vivendo os nossos dias, seguindo rotinas e realizando as atividades que escolhemos realizar e esquecemos como muito do que queremos controlar escapa completamente à nossa decisão consciente. Há vezes em que um passo a mais ou a menos, um minuto antes ou depois, para um lado ou para outro, muda muita coisa. Esse processo acontece a todo momento, pois a todo instante estamos escolhendo, vivendo, andando de um lado para o outro, encontrando e conhecendo pessoas. Mas, nem por isso nossa atenção é chamada para esse processo, pois na maioria das vezes, sentimos muito pouco que estamos presenciando algo com poder de influenciar ou até mudar radicalmente os caminhos em que estávamos andando. Entretanto, existe uma minoria de acontecimentos que carregam em si algum conteúdo especial inexplicável a que, não por acaso, damos o nome de “acaso”. Jogamos a responsabilidade de encontros inesperados e acontecimentos imprevistos ao acaso. Alguns até diriam que esses acasos na verdade são fruto da ação de forças invisíveis superiores. Quem sou eu pra confirmar ou duvidar?


Desconfio que o acaso seja um tanto brincalhão, e gosta de nos colocar à prova, de nos desafiar e de nos levar a repensar tudo aquilo que temos como totalmente certo em nossa vida. Ele faz ironias, prega peças e se diverte com as nossas confusões. Ele se diverte vendo que somos, no fim das contas, sempre muito frágeis, muito pouco decididos e muito pouco estáveis. Estamos sempre mudando, a cada passo que damos. Sempre alterando nossa rota, nossas escolhas, pouco a pouco, de forma quase imperceptível. E, freqüentemente, quase não enxergamos quando estamos rumando a possibilidades completamente inusitadas.


Sinto como se eu vivesse num jogo, controlado pelo acaso, em que a cada rodada novos dados são jogados, novas cartas são colocadas sobre a mesa, e preciso repensar minhas escolhas, reprogramar meus caminhos e, para atender às novidades, como que me refazer. Eu me surpreendo com as mudanças. Eu me surpreendo ao ver que pensamentos se alteram, sentimentos mudam de intensidade e julgamentos novos são realizados a partir de perspectivas que me parecem muito mais abrangentes. Nesse processo eu me sinto cada vez mais integrado ao conjunto de potencialidades que marcam a minha existência, embora, com freqüência desconcertante, eu me sinta confuso e sem saber que elementos e variáveis considerar na hora de escolher aquilo que eu já sinto que quero escolher. Talvez tudo seja parte das brincadeiras desse estranho acaso, que ri de como nos forçamos tanto para não querer o que queremos e não escolher aquilo que tememos não nos dar segurança. Ele ri porque sabe que a qualquer momento poderá nos chacoalhar novamente e mudar todas as regras do jogo, e fazer com que o certo pareça incerto e o seguro pareça inseguro.


De tudo isso, acho que tiro um questionamento importante, embora ainda não respondido: devo estar ansioso a respeito do futuro quando sei que poderia estar me deixando levar por essa brincadeira toda que o acaso cria? E quanto devo adiar aceitar a brincadeira sabendo que, a qualquer momento, qualquer um de nós pode enfrentar a maior (talvez a única) de todas as certezas que temos ao nascer, que é o fim da brincadeira?

Um comentário:

  1. Se ficar ansiosa resolvesse as contrariedades da vida; a minha vida não teria nenhum problema... Mas apesar de sofrer de um grau elevado de ansiedade eu continuo sendo vítima das brincadeiras do "acaso". Por isso, acredito que o melhor é dançar de acordo com a música...

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