Eu considero inocente dizer que precisamos acabar com o preconceito e a intolerância, pois acredito que estes façam parte da forma como a nossa mente funciona. Mas, considero, no mínimo, uma baita preguiça deixarmos que eles se manifestem livremente, como se fossem intocáveis à razão, à reflexão e ao julgamento. Se não houvéssemos minimamente aprendido a contornar algumas de nossas emoções lá no passado longínquo, a vida em sociedade não existiria.
A História está repleta de eventos que deveriam nos tornar mais sensíveis à possibilidade de que inevitavelmente nós nos enganamos a respeito dos nossos julgamentos. E, frequentemente, esses enganos fazem com que um número grande de pessoas pague um alto preço. Já se pensou que as mulheres fossem inferiores (sim, e nem faz muito tempo, acreditam?) Já disseram que os índios não possuem alma e, portanto, poderiam ser escravizados ou mortos, sem qualquer problema. Já disseram até que a cor da pele determina se alguém é melhor ou pior, mais ou menos capaz e inteligente. E, repito, nem faz muito tempo que essas coisas eram tomadas como completas verdades. Ainda hoje encontramos resquícios dessas crenças. Ainda hoje encontramos crueldades herdadas por causa de julgamentos pouco refletidos, pouco pensados.
A pergunta é: quanto nós realmente temos refletido sobre nossas posições a respeito da vida humana?
Aparentemente, ainda pouco. Quando vejo uma notícia de que um deputado federal recebeu ameaças de morte por defender leis que procuram garantir alguns direitos a uma parcela significativa da sociedade, realmente vejo que há muito a ser aprendido por todos nós.
A respeito da notícia sobre o deputado Jean Wyllys e sua luta pelos direitos de homossexuais e transgêneros, o que me parece ainda mais preocupante, é que as ameças que ele recebeu possuem um forte teor "religioso". Não precisamos ser grandes conhecedores da História para sabermos que dentre todos os preconceitos pouco pensados, alguns dos mais cruéis são os que se escondem sob uma obviamente equivocada interpretação do que vem a ser "a vontade de Deus". Quantas pessoas já foram mortas e perseguidas em nome de algum deus? Aprendemos nada com tudo o que já aconteceu no mundo? Inquisição, ditaduras, nazismo... realmente não aprendemos nada?
"Em nome de Deus você merece morrer" foi uma das ameaças recebidas pelo deputado, vindas de pessoas que se declaram "evangélicas". Daí eu me pergunto: se a base da mensagem evangélica é o amor, que amor é esse que está movendo a vida dessas pessoas que se dão o direito de declarar quem deve ou não morrer? E pior, fazendo isso em nome de Deus?
Ainda há muito a avançarmos quanto a várias questões. E as mais complicadas são as que se misturam a crenças e valores descuidados e pouco pensados. Cada um de nós é responsável por este mundo, embora seja muito mais fácil entregá-lo aos políticos, aos líderes religiosos ou aos deuses que cultuamos. Afinal, nós não queremos nos comprometer. Não queremos assumir responsabilidades, certo?
Fingimos que nada disso nos diz respeito para depois podermos sentar, com a consciência "limpa", com nossos amigos e familiares e reclamarmos do mundo e de como as coisas vão mal por aqui....
Ah, e a culpa, é claro, nunca é nossa.
Show!
ResponderExcluirExcelente!!
ResponderExcluirEsse texto deveria fazer parte de primeira página dos jornais mais lidos, das reportagens mais ouvidas!! Ele diz muito do que deveria fazer parte dos nossos maiores desejos de uma sociedade mais justa, mais preocupada com a igualdade social, etc....